Autor: Nuno Martins Neves
Há um ano atrás, disse que a Ribeira Grande era um concelho apetecível e
que tinha cerca de 200 milhões de euros em investimentos previstos.
Pergunto se esse valor ainda se mantém e quanto é que já começou a ser
executado?
Temos vindo a verificar um aumento nos investimentos no
concelho, em particular na área turística, e desses 200 ME, posso
adiantar que 40 ME já estão com licenciamento aprovado. Há essa boa
notícia: estes investimentos não ficaram no papel. Todos eles, na sua
maioria dos 40 milhões de euros, licenciados, prevendo-se que as obras
se iniciem o mais rápido possível. Poderá ter havido um qualquer
contratempo ao nível dos financiamentos, especialmente o Construir 2030,
pois a maioria destes investimentos estavam à espera que estes fundos
se abrissem, e a nota que nós temos é que todos eles estão a avançar.
Para
além disso, e esta será a notícia mais recente, temos uma cadeia de
fast-food no concelho, que já começou a obra. E prevê-se a inauguração
daquele espaço em outubro deste ano. E isto também diz nota, quando uma
cadeia desse tipo investe numa localidade, é sinónimo que essa
localidade está em expansão. Aliás, o modelo de negócio dessas cadeias
internacionais assim o dita. Estamos muito satisfeitos que esta
capacidade de atração de investimentos começa já a materializar-se.
É um sinal de maior notoriedade do concelho?
Tem
sido essa uma das nossas preocupações: querer mostrar as nossas
potencialidades. Para isso, e dando nota em primeira mão, estamos a
finalizar o estudo da marca do território, da marca Ribeira Grande. Já
temos as primeiras conclusões do estudo, que será apresentado em
setembro. E dita, mediante o que foi explorado, que a Ribeira Grande não
se especializa numa determinada área. Ao nível empresarial,
paisagístico, fatores endógenos como a geotermia. Há um manancial de
potencialidades na Ribeira Grande que careciam de ser exploradas. E esse
tem sido o nosso trabalho na autarquia: mostrar que temos
potencialidades, fazer com que os investidores apareçam - felizmente e
de acordo com os dados que nós temos, começam a materializar-se muitos
desses investimentos - mas diria que o que vai sair desse estudo é que a
Ribeira Grande não é só boa numa determinada área: é boa em várias
áreas com potencial de crescimento.
O estudo também aponta lacunas à marca Ribeira Grande?
Eu
diria que a grande mais-valia do concelho tem a ver com as suas gentes,
resilientes, que olham para as adversidades, que sempre aconteceram, e
sabem dar a volta por cima.
Como lacunas, há várias em que temos de
investir, nomeadamente na parte ambiental. São áreas, e olhando agora
para as alterações climáticas, termos notas que estes fenómenos
atmosféricos agressivos vão acontecer de forma mais regular e sem aviso
prévio. Temos de ter mais investimentos e uma outra visão, nesta área em
particular.
Por outro lado, o grande destaque são as nossas gentes,
onde continuamos a ser o concelho mais jovem do país. Segundo os Censos
de 2021, continuamos a liderar essa estatística: 50% da nossa população
tem menos de 35 anos e isto é um potencial enorme. A preocupação agora é
como reter os nossos talentos, reter a nossa população.
Como é que isso se faz, a retenção dos talentos?
Há
um tema mediático, que é a habitação. Nós no concelho e na autarquia já
temos a nossa Estratégia Local de Habitação definida, apresentada,
estando agora a aguardar o financiamento para avançar com uma oferta
habitacional a preços acessíveis.
Isto na vertente pública. Na
vertente privada temos vindo a colaborar com uma cooperativa de
habitação, a Nossa Vila, Nossa Casa, que é uma área que vem ajudar a
colmatar a falta de casas a preços acessíveis. Esta cooperativa tem,
neste momento, cerca de 100 moradias em projetos, cujos terrenos, grande
parte, foram cedidos de forma gratuita pela autarquia, o que, desde
logo, faz com que o preço final das moradias seja bastante reduzido.
Por
outro lado, temos vindo a dialogar com o Governo Regional dos Açores,
que vai recuperar o investimento Trás-Os-Mosteiros, cerca de 55
apartamentos a preço acessível. E dar nota que temos, neste momento, 250
lotes privados que estão a ser executados. Claro que é investimento
privado puro e duro, mas não deixa de ser uma oferta que aparece no
concelho, não a um preço tão acessível.
Referiu as alterações
climáticas. Foi público o que aconteceu na zona central da cidade e na
Ribeirinha. Isso vai implicar uma atuação, por parte da autarquia, ao
nível de um plano municipal de mitigação dos efeitos das alterações
climáticas?
Os fenómenos foram muito localizados e estão
referenciadas as problemáticas dessas zonas. Estamos, inclusivamente, a
trabalhar na minimização desses danos futuros, nomeadamente com novas
zonas de escoamento. Havia uma bacia de retenção que carecia de maior
limpeza e agora estamos a fazê-la de forma mais assídua.
Mas sim,
diria que carece de termos um plano integrado. Aliás, estamos a definir o
Plano Municipal de Ação Climática (PMAC), que é um documento
estratégico, não só para os novos financiamentos que vão advir do Açores
2030, mas também que nos vais ajudar a compor esta nossa preocupação
para as alterações climáticas.
Por outro lado, tendo a Ribeira Grande
uma ribeira a atravessar a sua cidade, com certeza que temos de pensar
mais a montante, em zonas de bacias de retenção. Não só em questões de
maior pluviosidade, mas também devido a situações ambientais.
Infelizmente, tem havido descargas ilegais na ribeira, que depois
desaguam no mar e numa zona balnear, do Monte Verde, que queremos e
estamos a tentar requalificar a todo o custo.
Como deve calcular,
numa linha de água, não temos propriamente uma câmara de vigilância em
todos os locais. E por isso, estamos a trabalhar em soluções que vão
permitir identificar rapidamente, em caso de descarga ilegal, os
prevaricadores e possivelmente ter soluções que possam reter esses
inertes numa zona mais a nascente, para permitir que depois as zona mais
ribeirinhas não fiquem prejudicadas, nomeadamente a zona balnear do
Monte Verde.
Qual é o atual estado financeiro do município?
Quando
entramos para a autarquia, em 2013, estávamos numa situação muito
amarrada financeiramente. Estávamos com um PAAL - Programa de Apoio às
Autarquias Locais - que obrigava a que os impostos estivessem no máximo,
que não pudéssemos fazer transferências para instituições, e isto foi
completamente ultrapassado ao longo dos últimos mandatos.
Estamos numa situação financeira perfeitamente folgada, que permite investimentos e financiamentos para o futuro.
Várias pessoas têm se queixado do aumento da criminalidade no concelho da Ribeira Grande. É uma preocupação da câmara?
Sem
dúvida. Por isso é que fomos a primeira autarquia dos Açores a avançar
com um Plano Municipal de Combate ao Abandono e Absentismo Escolar,
também definimos e temos em carteira um Plano Municipal de Combate às
Dependências, apresentado no ano passado. E isso denota, que mais não
seja, a nossa preocupação em relação a essas duas temáticas em
particular.
Se virmos nos Açores e pelo país fora, os casos de
toxicodependência estão a aumentar consideravelmente, principalmente
devido às drogas sintéticas e a Ribeira Grande não está excluída desse
problema. Felizmente, temos tido uma preocupação que tem sido
correspondida por parte das entidades competentes, nomeadamente a PSP,
que com os seus meios tem feito um trabalho inexcedível e de muita
proximidade, quer com as entidades locais, quer com a própria população.
Prova
disso é o protocolo que assinamos, recentemente, para que a PSP fique
de forma presencial mais visível ao longo do centro histórico, e isso
também trouxe a nossa preocupação e passou para os residentes essa
notoriedade ao nível da segurança. Estamos a investir em videovigilância
em parques de estacionamento, dentro da legalidade e com todas as
autorizações.
A nossa competência neste aspeto é limitada. Ao nível
da prevenção, temos atuado junto das escolas e com as instituições. A
parte criminal não é uma competência da autarquia. Temos um programa
muito interessante com uma entidade local, que permite a troca de
seringas gratuitas na população toxicodependente, com muito boa adesão.
Em
relação ao abandono e absentismo escolar, aquilo que se notou foi algo
surpreendente: já no primeiro ciclo, denota-se uma desistência superior a
16%, que é deveras alarmante. E de imediato disponibilizamos algo que
estava ao nosso alcance: um ação social mais efetiva.
Já fomos
contactados e fazemos parte de um grupo de trabalho que, sempre que é
identificado alguém que está a faltar à escola, um técnico de ação
social da autarquia vai a casa da família perceber o que se está a
passar. Tem sido positiva a parceria com as nossas instituições, pois às
vezes trabalhávamos muito de costas voltadas uns para os outros,
sabendo que muita gente fazia muita coisa, mas depois não havia
concertação. Esse estudo veio, precisamente, dar esta visão de
cooperação, pois os meios e as pessoas existem, faltava era o diálogo.
Quanto à obra de ligação à ETAR a Rabo de Peixe, já está finalizada?
Terminamos
a intervenção no final do mês passado, com toda a rede ligada à ETAR de
Rabo de Peixe, na zona de Santana. Foi investimento de cerca de 2 ME,
que permitiu ligar as águas residuais da cidade até à ETAR, que estava
com 25% da sua capacidade de funcionamento, estando agora à volta dos
40%. Foi um investimento estruturante, porque por um lado permite
resolver o tratamento das águas da cidade, que não havia; e por outro
lado, rentabilizar um investimento público, a ETAR, que estava
subaproveitada. No passado, e antes de entrarmos para a autarquia, havia
uma previsão de se fazer uma nova ETAR na cidade, na zona do Monte
Verde, mas que na nossa opinião iria inviabilizar os investimentos
turísticos que neste momento começam a aparecer naquela zona.
Falando
do Monte Verde, a obra da frente-mar certamente será o marco que
pretende deixar no final do seu mandato. Em que ponto está a obra da
segunda fase?
Nós lançamos o concurso público há sensivelmente um
ano. Acreditávamos que a obra fosse consignada em tempo útil,
nomeadamente durante o ano de 2023. No entanto, houve uma reclamação dos
segundos e terceiros classificados, a que foi dado provimento. Por
isso, o concurso teve de ser anulado. O que se passou desde então é que
estamos a reformular o concurso, com novas peças procedimentais, para
lançar novamente esta importante empreitada.
Acreditamos que nos
próximos meses esse concurso virá a público novamente. Já não há uma
questão de financiamento - tenho de fazer justiça à prontidão com que o
Governo Regional respondeu ao nosso desafio, realizando um contrato
ARAAL no valor de cerca de 2 milhões de euros, que vai permitir que a
2.ª fase seja executada - mas sim uma questão burocrática e de acordo
com as regras de contratação pública. É uma obra que, devido ao seu
montante - estamos a falar de 4 milhões de euros de investimento - terá
de ser um concurso público internacional, pelo que teremos de esperar
por todos esses passos para começar com a obra.