Açoriano Oriental
Oficina-Museu das Capelas: Uma viagem no tempo pelas tradições açorianas

Manuel João Melo dedica-se há 26 anos à Oficina-Museu, um espaço onde as antigas artes e ofícios dos Açores são preservados e revividos. Este museu oferece aos visitantes uma oportunidade única de recordar e descobrir o passado, com recriações detalhadas de estabelecimentos comerciais e ofícios que marcaram gerações



Autor: Ana Carvalho Melo

Na Vila das Capelas, é possível viajar no tempo e reviver, ou simplesmente recordar, as artes e ofícios que marcaram muitas gerações de açorianos e não só. Esta viagem no tempo pode ser realizada na Oficina-Museu das Capelas, onde Manuel João Melo, de 85 anos, se dedica há 26 anos a tornar esta experiência uma realidade.

“O meu objetivo principal era valorizar a freguesia e trazer muita gente. Então, andei, andei, andei até que consegui”, afirma à Açores Magazine, enquanto nos guia por uma experiência onde se fazem descobertas e se recordam outros tempos.

Ao longo de mais de duas décadas, Manuel João Melo tem-se dedicado à criação da Oficina-Museu, onde preservou a memória de antigos ofícios e também de alguns estabelecimentos comerciais de Ponta Delgada.

Neste espaço concebido para que o visitante se perca entre descobertas sobre diversas atividades do passado e memórias de tempos já vividos, Manuel João Melo criou uma alameda onde os pormenores se destacam, desde varandas até ao detalhe dos fios de eletricidade de antigamente. Tudo está recriado até ao último detalhe para se assemelhar o máximo possível às vivências de outros tempos.

“Muita gente ao vir aqui lembra-se de coisas que já passaram, mas que continuam presentes na memória”, refere, contando que um visitante húngaro lhe confidenciou que gostaria de mostrar este espaço aos filhos porque encontrou muitas coisas que fizeram parte da sua vida, algumas das quais quase já nem se lembrava.

Ao longo desta alameda encontramos desde o sapateiro, o barbeiro, a loja de fazendas, a livraria, a mercearia, a papelaria, o alfaiate, a carpintaria, o fotógrafo, a olaria e uma cozinha, tal como existiram num passado recente. Podemos ainda ver uma farmácia, com todos os componentes para se fazerem medicamentos instantaneamente, como noutros tempos, uma gráfica com máquinas centenárias, uma recriação da antiga loja “Baterias Moreira” e da loja de relojoaria existente na cidade de Ponta Delgada, uma liquidadora, atualmente mais conhecida por “loja de antiguidades”, entre muitas outras coisas.

A Oficina-Museu das Capelas é um sonho que surgiu na vida de Manuel João Melo já depois de se ter aposentado.

Professor de profissão, Manuel João Melo começou a lecionar em 1960 na Escola Primária das Capelas, tendo residido nesta freguesia durante 10 anos. Em 1970, mudou-se para a Fajã de Cima, onde também lecionou. Quatro anos mais tarde, com a abertura do ciclo preparatório no Convento dos Frades na Lagoa, mudou-se para a Lagoa, tendo-se efetivado como professor do preparatório. Em 1988 aposentou-se, tendo como plano para os anos seguintes voltar a viver nas Capelas e dedicar-se ao artesanato.

“Sempre achei que não tinha feito o que era preciso pelas Capelas”, afirma, explicando: “Voltei praticamente 20 anos depois para as Capelas. Já tinha feito aquela casa”.

E assim, abriu um atelier em sua casa, onde realizava os seus trabalhos de artesanato, o qual estava aberto ao público, partilhando com os turistas estas artes regionais. “Ao sentir que não tinha material suficiente para satisfazer os turistas, lembrei-me de começar a recolher os diferentes ofícios”, conta.

Assim começou o projeto da oficina-museu, que teve o seu início na praça, onde se pode visitar a olaria e a gráfica, mas também uma sala dedicada às mais diversas coleções.
A partir daí, o projeto cresceu com o gosto do seu fundador, que, quer por aquisições suas, quer por ofertas que foi recebendo ao longo dos anos, foi aumentando o espaço de exposição.

“O grande segredo foi levar as pessoas a trazerem as coisas para aqui, em vez de as deitarem para o lixo. Houve muita gente e muitas firmas que tinham coisas velhas que me venderam ou que me deram”, revela, explicando que sempre separou e escolheu essas doações de forma a ter em exposição as peças mais significativas e valiosas.
“A cabeça não pára e a gente vai sempre criando. Eu sabia o que queria e fui fazendo”, relata.

Nesta conversa, Manuel João Melo conta ainda que, enquanto lecionava, colecionou selos, uma coleção que agora está exposta, mas que esteve arrumada durante anos.
Parar e descansar não faz parte dos planos de Manuel João Melo, que continua diariamente a estar na Oficina-Museu, onde atentamente verifica se tudo está no seu devido lugar e de acordo com a ideia que concebeu para cada espaço. “Ainda há muita coisa a fazer. Isto nunca tem fim porque é como a vida. Agora precisava de voltar à área dos rádios e desmontar um rádio todo para que pudesse explicar como um rádio funciona”, explica.

Escolas, ATL, seniores e turistas são os visitantes deste espaço único onde se pode recuar no tempo.

Atualmente, a sua vontade é reconstruir a Casa Tinoco, uma loja antiga de Ponta Delgada. Um projeto que já foi iniciado, mas ainda não reúne as condições para poder ser visitado. Um trabalho que ainda continua a ser realizado.

A Oficina-Museu das Capelas, onde Manuel João Melo pode ser encontrado, pode ser visitada de segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 16h00, e aos sábados das 14h00 às 17h00.

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