Açoriano Oriental
Barómetro da sociedade
"Açores têm de olhar o futuro com uma grande angular"

A propósito das eleições regionais, o AO fez quatro perguntas a várias personalidades da Região. O convidado desta sexta-feira é o escritor e Professor Universitário, Onésimo Teotónio de Almeida

"Açores têm de olhar o futuro com uma grande angular"

Autor: AO Online

Tem acompanhado este período eleitoral nos Açores?

Sim, mas pelos jornais tudo fica muito superficial. Na política, os bastidores é que são o palco e esse palco fica escondido do público. Muito pior se de permeio ainda se mete a comunicação social. Acrescente-lhe o Atlântico e imagine o desfasamento resultante quando visto desta margem de cá.

Que opinião tem sobre a atual situação política?

Comparada com a dos EUA, muito serena, o que não significa necessariamente limpa. Isto porque na Europa, por enquanto, a situação encontra-se mais estável do que por cá, onde as instituições são muito fortes mas também altamente regulamentadas; e, por isso mesmo, algo morosas no encontro de soluções para problemas novos, visto que, por tudo e por nada, se levanta processos no tribunal, por mais frívolos que sejam. Protelam-se decisões vitais apelando para instâncias superiores.

Quem gostaria que vencesse as eleições?

Essa pergunta é capciosa, que é um termo polido para “passar uma rasteira”. O voto é secreto. Posso apenas dizer que preferiria, se pudesse, votar em pessoas em vez de em partidos políticos e suas máquinas.

Qual deve ser a prioridade da governação?

A política é, em toda a parte, a luta pela divisão das fatias do bolo coletivo. Nos Açores ainda é mais assim porque, enquanto nos países desenvolvidos há que produzir o bolo desde os ingredientes até à confeção final, no arquipélago os ingredientes vêm quase todos de fora. Localmente, quase só se coze em lume brando, como o cozido das Furnas. 

Os Açores têm de olhar para o futuro com uma grande angular, de modo a tornar possível o equilíbrio entre os dois lados da balança: por um lado, distribuir mais equitativamente as fatias do bolo, contemplando os menos favorecidos, sem se cair na esmola que favorece a preguiça: por outro, há que pensar a longo prazo e inventar maneiras de depender menos da dádiva europeia. Para isso terão de se empenhar na criação de modos de produzir mais do bolo que o arquipélago consome. É que, se um dia a Europa deixar de dar leite, as vaquinhas açorianas não vão tê-lo em quantidade bastante para o bolo coletivo. Um grande problema açoriano (e em grande parte português) é as pessoas pensarem que quem trata disso é só o governo (“os políticos”, como se diz na gíria diária). Vota-se neles e descansa-se por uns quantos anos à espera de que se ocupem sozinhos de solucionar os problemas da Região. É uma questão de mentalidade que não se resolve facilmente. Não estou a desculpabilizar nem a desresponsabilizar o governo ou os políticos; estou só a lembrar que o voto não é um mandato para os outros trabalharem, enquanto o cidadão eleitor vai tratar da sua vidinha particular até às eleições seguintes.

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados