Autor: Cristina Pires/ Paulo Faustino
Do projeto que definiu para os próximos quatro anos, o que destaca em termos de prioridades?
O
trabalho num município nunca se esgota. Tenho a sensação que fiz tanta
coisa em dois anos, mas tenho tanta coisa ainda para fazer. Mas sou
mesmo assim de perfil, insatisfeita por natureza. Estou sempre a pensar
um pouco mais à frente e a aproveitar as circunstâncias, as
oportunidades que nos vão surgindo, para redesenhar novos projetos para a
Lagoa. Obviamente que temos áreas estratégicas nos próximos anos. Se,
por um lado, o apoio às famílias tem sido a tónica principal de todas as
candidaturas socialistas à câmara e esta é uma área que não abandonamos
porque continuamos a querer estar ao lado das famílias, principalmente
daquelas que têm uma situação socioeconómica mais desfavorecida, por
outro há áreas novas que requerem uma atenção muito grande. O
desenvolvimento económico é uma questão de oportunidade, percebemos que a
atualidade nos exige capacidade de captar investimentos para a Lagoa.
Portanto, é óbvio que os meus próximos quatro anos vão estar muito
orientados para o desenvolvimento económico, com algumas medidas que
possam promover precisamente isso, e a educação sem dúvida. O
verdadeiro promotor de desenvolvimento e riqueza para as famílias é a
educação. Infelizmente, na Lagoa continuamos a ter uma taxa de
absentismo escolar que nos preocupa e resultados de insucesso escolar
que não desejamos. Foi por isso que a Lagoa, no último ano, apostou no
programa Prosucesso e felizmente, após um ano, o balanço final
apresentou resultados animadores - aquém daquilo que nós desejamos, mas
animadores. Mas só faz sentido termos apostado no Prosucesso se este
Prosucesso tiver continuidade porque senão trabalhámos um ano e agora
vamos para casa e ficar a dormir à sombra da bananeira, que não é, de
todo, o resultado que desejo para a Lagoa. Também tenho uma equipa na
Assembleia Municipal com várias pessoas ligadas à área da educação,
precisamente por entender que a educação vai ser um dos vetores
principais do trabalho da autarquia nos próximos 4 anos. Temos que
apostar na valorização, na formação dos mais jovens porque só isto é que
vai permitir que esta nova geração possa ter realmente um emprego, um
lugar no mercado de trabalho e é isso que vai gerar riqueza para as
famílias, a verdadeira riqueza.
O facto da Lagoa ser uma cidade tem ajudado na captação de investimento?
Naturalmente
que sim. (...) Mas, acima de tudo, estamos muito bem localizados.
Estamos no meio da ilha de São Miguel com ótimas acessibilidades a todos
os concelhos vizinhos e isso é fulcral. Sentimos que, ao nível do
gabinete de obras particulares e em termos de licenciamentos também de
empresas, o volume de processos já aumentou e é este momento que temos
de saber aproveitar. Também acho que sermos cidade tem que exigir de nós
um compromisso diferente com a cidade. Não podemos crescer por crescer,
temos que crescer com ordenamento e é por isso que uma das propostas
para o próximo mandato - que já começamos a trabalhar na câmara, mas não
está pronto e conto apresentar este documento no próximo mandato - é um
regulamento que aposte na revitalização dos centros urbanos. Temos que
ter uma imagem ordenada da cidade, não podemos abrir comércio e cada um
fazer o que quer, à sua vontade, sem termos atenção a detalhes de
estética que são importantes para uma cidade. (...) Conto - se não for
até ao final do ano, logo no início de 2018 - ter esse documento para
submeter à Assembleia Municipal, o qual tem a ver com este ordenamento
que queremos para a cidade da Lagoa. Depois há os planos de ordenamento
do território, os PDM’s, os planos de urbanização, os planos de
salvaguarda, que têm de ser todos revistos. Se estamos a crescer também
temos de perceber para onde é que vamos crescer e em que sentido é que
crescemos para que também, em termos de uniformidade entre freguesias,
esse crescimento chegue às cinco freguesias do concelho e não seja um
crescimento que fique cingido a uma área do concelho. (...)
Além da
área do desenvolvimento económico e da educação, também a área do
ambiente. Não temos lagoas no concelho da Lagoa, mas temos natureza.
Junto à orla marítima gozamos de uma costa única.
Apresentou
recentemente um projeto de requalificação da orla marítima da Lagoa. Em
que consiste este projeto e quais as zonas que vai abranger?
Tencionamos
criar uma zona de passeio pedonal e ciclovia que ligue a zona da
Atalhada - lugar das Poças do Cruzeiro - até à baía de Santa Cruz para
que seja possível à nossa população passear ao longo da sua orla, que é
uma orla bonita, que tem dados geológicos interessantes e que também vai
ter apontamentos que permitam às pessoas, durante a sua caminhada, ir
percebendo um bocadinho do seu território. (Queremos) que seja uma zona
de lazer, de passeio em família. Em nenhum momento queremos um
apontamento de via rodoviária junto à orla costeira, o que queremos é
criar um interesse novo perante a relação que a Lagoa tem com o mar. É o
que faz sentido porque gozamos desta ótima relação com o mar. (Temos)
uma costa baixa, interessante, com um recorte natural único e queremos
potenciar isso.
Depois, na área do ambiente, temos forma de descobrir
o concelho por dentro, através dos trilhos pedestres. Já temos uma rota
de trilhos pedestres grande abrangendo várias freguesias do concelho,
mas que temos de continuar a apostar.
E, no ambiente, naturalmente a
questão dos resíduos e trabalhar a sensibilização da população. Somos
cidade com orgulho, queremos crescer, mas toda a população tem que
acompanhar esse crescimento. Temos de reforçar as nossas ações de
sensibilização junto da comunidade, fazendo com que todos aqueles
obstáculos que a comunidade tem para aderir à recolha seletiva caiam
(...) Não podemos querer estar num pleno ano de 2020 ou 2030 a ter
atitudes e comportamentos que tínhamos em 1970. Estamos a falar de
realidades muito diferentes. Infelizmente, ainda não conseguimos, junto
da população, que houvesse essa adesão à recolha seletiva conforme
gostávamos, nos valores que pretendemos, e esse trabalho é para ser
reforçado nos próximos 4 anos (...).
A Lagoa tem beneficiado do crescimento do setor turístico?
Obviamente
que sim. Temos assistido a vários licenciamentos nos últimos anos -
principalmente este ano e no último ano - de alojamentos locais. Ainda
recentemente foi inaugurado na Lagoa um novo hotel, o White na Atalhada,
uma referência no ramo hoteleiro de alta qualidade e o que queremos é -
e já temos outros investidores que apresentaram projeto na autarquia -
criar outras unidades de alojamento.
Neste momento, a Lagoa, se
calhar, é das orlas costeiras - na relação com o turismo e com a
hotelaria - mais virgens que temos. Portanto, aqui temos margem para
crescer, agora queremos crescer com qualidade e de uma forma ordenada e
interessante para a Lagoa. Não defendo aquilo que, às vezes, oiço muitas
vezes e a oposição também defende: um hotel de cidade. Não acho que a
Lagoa, enquanto cidade, tenha que ser uma cidade igual à de Ponta
Delgada. (...)
O que é que a Câmara da Lagoa tem feito para inverter a falta de emprego?
Sem
dúvida que o turismo pode ser uma mais valia, mas não é só esse setor
que pode ser uma mais-valia - também toda a área do Tecnoparque, com as
empresas que se vierem a sediar no Parque de Ciência e Tecnologia ou em
toda a zona do Tecnoparque que são empresas de base científica e
tecnológica. Mas quer uma quer outra vão-nos levar à questão anterior,
que é a educação. Temos mão de obra na Lagoa com pouca qualificação,
pessoas que vieram do setor da construção civil com poucos
conhecimentos, que não dominam uma Língua estrangeira e que, para se
enquadrarem quer na área do turismo, quer na área da ciência e
tecnologia, acabam por estar pouco capacitados para desenvolverem uma
atividade profissional em qualquer um destes ramos. Percebo que o
governo esteja a colocar as pessoas nas escolas e faz todo o sentido, é
por aí, mas temos que garantir que as gerações mais novas não vão ter de
chegar a adultos e voltar para a escola para tirar o inglês ou para
fazer o 9º ano de escolaridade. Quem está na escola tem de sair
verdadeiramente capacitado para entrar no mercado de trabalho nestas
áreas. E o futuro da Lagoa vai passar por estas duas áreas (...) Faz
sentido que os lagoenses, quando terminem a sua formação académica ou
profissional, tenham emprego no seu concelho. Mas, para isso, têm que
apostar na valorização deles próprios e, portanto, temos de trabalhar a
área da educação sem dúvida, porque senão vamos ter uma cidade em que as
pessoas não se identificam com ela e é essa grande aposta que estamos a
fazer nas bases, porque acho que é lá atrás que temos de começar esse
trabalho (...).
Quantas empresas existem no Tecnoparque e qual a sua capacidade de crescimento?
Neste
momento, temos lá na zona do Tecnoparque o Expolab e o Parque de
Ciência e Tecnologia de São Miguel, que está preenchido, está cheio.
Todas as áreas estão ocupadas por várias empresas com um total de postos
de trabalho na ordem dos 100 trabalhadores, mas urge que nasçam os
novos edifícios do Parque de Ciência e Tecnologia porque a câmara
municipal cedeu ao Governo Regional quatro lotes nesta zona. Nós só
temos neste momento o primeiro bloco construído, falta os outros blocos.
Aparte disso, temos outros projetos na autarquia como os hospitais
privados, a ISOPOR e outras empresas que já sinalizaram lotes no
Tecnoparque e, neste momento, já temos todos os lotes do Tecnoparque
sinalizados. As empresas estão a fazer as suas candidaturas para poderem
depois iniciar as suas empresas.
Está confiante que os projetos de que fala vão conhecer a luz do dia?
Estou
confiante que vão conhecer. Acho que pelo caminho alguns podem ficar
(...) Não está nas minhas mãos a decisão de fazer nascer um negócio ou
não, obviamente. As empresas também estão na banca, nos fundos
comunitários, a tentarem obter aquilo de que necessitam para se
consolidarem. Mas acredito que vão nascer em breve projetos que vão ser
âncora para a zona do Tecnoparque, que vão permitir disponibilizar
vários postos de trabalho e espero que isto seja visível nos próximos
tempos (...).
Qual é a situação financeira atual do município da Lagoa?
Na
câmara municipal temos um endividamento na ordem dos 7,6 milhões de
euros, mas estamos numa situação financeira boa em relação a outros
municípios (...).