Autor: Lusa /AO Online
Para o ICOM Portugal, "este dia de celebração", que hoje se assinala, é também "um dia de grande preocupação" pela situação vivida pelos profissionais dos museus, monumentos e património cultural nacionais, integrados nas novas estruturas resultantes da reforma do sector empreendida pelo anterior governo, que considera "débeis nas suas orgânicas, funcionamento e processos de implementação", e que entende estarem agora "espartilhadas num quadro disfónico de incerteza".
A mensagem é assinada pelo presidente do ICOM Portugal, o historiador David Felismino, e refere-se ao quadro atual, resultante da reestruturação da área do património, posta em prática em janeiro, que extinguiu a antiga Direção-Geral do Património Cultural e deu lugar à entidade pública empresarial Museus e Monumentos de Portugal e ao instituto público Património Cultural, a par da extinção das direções regionais de cultura.
A incerteza gerada na sequência da definição deste quadro é, "neste momento [...], responsável por uma enorme instabilidade, paralisia dos serviços e desânimo das equipas", lê-se nos parágrafos de conclusão da mensagem, que também recorda a situação precária de trabalhadores do setor.
A mensagem do ICOM Portugal surge no mesmo dia em que a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, anunciou "uma revisão profunda" do setor do património cultural, e da empresa Museus e Monumentos de Portugal em particular, com a aplicação imediata de medidas como a delegação de "competências amplas nos dirigentes" de museus, palácios e monumentos nacionais, no sentido da autonomia que considera imprescindível.
A preocupação do ICOM Portugal surge no contexto do tema deste ano do Dia Internacional dos Museus, "Educação e a Investigação", e da nova definição de museu, aprovada pelo ICOM em 2022, que assume de forma definitiva o seu papel como agentes sociais, como se lê na mensagem publicada no 'site' da secção portuguesa.
Esta nova definição expande o papel dos museus ao "serviço da sociedade" impondo, como indica o ICOM Portugal, desafios que se prendem com diversificação de públicos, abertura às comunidades, compromisso com acesso e inclusão, democratização e pluralismo das narrativas, partilha de conhecimento, ampliação e variedade programática, atenção à contemporaneidade e compromisso e ativismo sociopolíticos.
Para o ICOM Portugal, que abre a mensagem com estas preocupações, "os desafios colocados pelo presente, como a globalização, a transição digital, a emergência climática, o envelhecimento das sociedades, os fenómenos migratórios, o crescimento e a afirmação de discursos e ideologias segregadores, pondo em causa valores e práticas democráticas há muito adquiridos, impelem os museus a um compromisso ainda maior, do ponto de vista social, com as comunidades que os rodeiam."
"Neste contexto, os Serviços Educativos ocupam um espaço cada vez mais central, se não o mais importante, nas instituições museológicas", escreve o ICOM Portugal, recordando que, "paradoxalmente, a função e a necessidade de haver mediadores culturais nos museus permanecem desvalorizadas".
Muitos destes trabalhadores encontram-se em situação precária, sem contratos de trabalho, "com repercussões nas [suas] vidas [...], mas também nos próprios museus", lê-se na mensagem do ICOM Portugal, que garante que "a ambicionada relevância social dos museus só é, e só será possível com efetivas políticas de recrutamento e valorização das carreiras destes profissionais."
"Urge cumprir o que [o filósofo] Walter Benjamin romantizou" há cerca de um século, que "os museus são espaços provocadores de sonhos", devem abrir "um infinito de possibilidades".