Açoriano Oriental
25 Abril
Itália também tem o seu 25 de Abril, Dia da Libertação do nazifascismo

A Itália também celebra a 25 de abril a sua “libertação”, mas a efeméride italiana é quase três décadas anterior à Revolução dos Cravos portuguesa, assinalando o triunfo sobre o nazifascismo em 1945, no final da II Guerra Mundial.

Itália também tem o seu 25 de Abril, Dia da Libertação do nazifascismo

Autor: Lusa/AO Online

Proclamado feriado nacional em Itália desde 1946, a "Festa da Libertação de Itália do nazifascismo”, também conhecida como "Festa da Libertação" ou simplesmente "25 de abril", assinala de forma simbólica a libertação da ocupação nazi e a derrota do regime fascista colaboracionista.

Embora a guerra em Itália não tenha terminado a 25 de abril de 1945 – prosseguiu até ao início de maio -, esta foi a data escolhida para assinalar a “libertação”, dado ter sido nesse dia que teve início a retirada, das cidades de Milão e Turim, dos soldados da Alemanha nazi e dos soldados fascistas da "República de Salò", um Estado ‘fantoche’ criado nos últimos anos da guerra, no norte do país, numa altura em que os Aliados já ocupavam boa parte do território italiano.

Por decisão do ditador Benito Mussolini, a Itália envolveu-se na II Guerra Mundial ao lado dos alemães, mas quatro anos após o início do conflito, a 08 de setembro de 1943, a Itália assinou um armistício com os Aliados, dividindo o país em dois: a sul estabeleceram-se as forças inglesas e norte-americanos, enquanto o norte foi ocupado pelas tropas alemãs.

O rei Vítor Emanuel III refugiou-se na região de Apúlia (sul), enquanto Mussolini fugiu para a Alemanha.

Durante mais de um ano e meio, do inverno de 1943 até à primavera de 1945, Itália foi cenário de um conflito que muitos classificam como uma guerra civil, opondo as forças nazis apoiadas pelo (que restava do) regime de Mussolini ao movimento de resistência italiano, apoiado pelos Aliados.

Num conflito sangrento durante o qual a resistência foi essencialmente levada a cabo por um vasto movimento de combatentes conhecidos como 'partisans' - estima-se em cerca de 250 mil os combatentes, um quinto dos quais foram mortos -, coube a estes organizar, a 25 de abril de 1943, a “libertação” de Milão e Turim, aproveitando a revolta popular que se registava nas duas grandes cidades do norte de Itália contra as forças ocupantes.

Depois de já terem ‘conquistado’ Bolonha, a 21 de abril, e Génova, a 23, os 'partisan'” – ao qual pertenciam todos os movimentos antifascistas e de resistência italianos, incluindo comunistas, socialistas e democratas-cristãos – atravessaram a 24 de abril o Pó, rio da Itália setentrional, último reduto das forças nazi, e no dia seguinte os soldados alemães e da República de Salò começaram a retirar-se de Milão e Turim, no que é entendido como a sua capitulação no território italiano.

Em abril do ano seguinte, o governo provisório italiano - o primeiro liderado por Alcide De Gasperi e o último do Reino de Itália - proclamou, por decreto, que o dia 25 de abril passaria a ser feriado nacional para comemorar o Dia da Libertação do Nazifascismo, termo utilizado para descrever a associação entre o fascismo italiano e o nazismo alemão, acordada entre Mussolini e Adolf Hitler.

A 25 de abril próximo, enquanto Portugal celebra o 50.º aniversário da revolução que pôs fim à ditadura do Estado Novo, Itália assinala o 79º aniversário do ‘seu’ 25 de abril, num contexto em que o país tem o governo mais de direita desde a II Guerra - uma coligação de direita e extrema-direita, liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni, líder dos Irmãos de Itália, partido considerado herdeiro do Movimento Social Italiano (MSI), neofascista, criado em 1946 por figuras proeminentes do regime. Benito Mussolini foi executado a 28 de abril de 1945, dois dias antes do suicídio de Hitler.

No ano passado, o 25 de abril foi o primeiro a ser celebrado em Itália desde a chegada ao poder do governo de coligação dos Irmãos de Itália, Liga (populista de extrema-direita) e Força Itália (centro-direita), o que fazia antever controvérsia nas comemorações, até em virtude de declarações polémicas de alguns responsáveis partidários de alas mais radicais nos dias anteriores, a evitar a condenação do fascismo e a criticar algumas ações dos ‘partisans’, muitas vezes conotados com o partido comunista.

No entanto, Meloni, que na sua juventude elogiava Mussolini – considerou-o o melhor político italiano dos últimos 50 anos quando aderiu à ala jovem do MSI – fez questão de afastar polémicas e instruiu todos a participar nas comemorações do Dia da Liberdade, que classificou como “um momento de redescoberta da harmonia nacional”, afirmando também na ocasião que “a direita em Itália é incompatível com qualquer nostalgia do fascismo”.


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