Açoriano Oriental
Carolina Melo
Vendedora, bartender e costureira: bom seria que “o dia tivesse 32 horas”

Está aí o Carnaval e, naturalmente, avolumam-se os vestidos de baile nos ateliers de costura, os bares ficam apinhados de gente e as lojas dos centros comerciais vão também assistindo e beneficiando da roda-viva própria do entrudo.


Autor: Miguel Bettencourt Mota

Precisava Carolina Melo que “o dia tivesse 32 horas”, mas não tem. Ela que, para o mal e para o bem, divide a maioria dos seus dias entre esses três ofícios.

Costureira em casa e no atelier de Paula Braga, barwoman no Raíz e vendedora numa loja do Parque Atlântico, a micaelense sabe bem com que linhas se coser. Faz, aliás, tudo parte de um plano maior que tem estado a desenhar para que este possa servir no tamanho do seu sonho.

“Mantenho estes três trabalhos para conseguir amealhar o suficiente para um dia poder ter o meu próprio atelier”, disse Carolina Melo em entrevista a este jornal.

Com 28 anos, a jovem aspira a ser “modista”, uma designação que nos faz viajar até tempos mais longínquos, mas que continua a referir-se a alguém que “desenha e confeciona”, por inteiro, a peça de roupa pedida pelo cliente, explicou.

“A criatividade ou se tem, ou não”, considera Carolina. Entretanto, se essa qualidade já nasceu consigo, o mesmo não aconteceu quanto à certeza para onde canalizá-la. Tem, afinal, pouco mais de “um ano e meio” que percebeu que a costura era “exatamente aquilo que queria fazer da vida”.

Para a convicção, de muito lhe valeu a experiência de vários anos e os tempos de menor expediente numa loja de venda de roupa no centro histórico de Ponta Delgada.

Como contou, “nas horas mortas eu começava a imaginar e a perguntar-me: ‘se eu pegasse naquela peça e cortasse atrás, ou abrisse mais o decote, será que não poderia funcionar?’

Desse exercício, até que passasse a desenhar a sua própria roupa e a mandasse fazer na Paula Braga, foi um passo. Depois, do curso básico de costura e das lições da tutora até que tivesse às mãos uma máquina da Singer, foi apenas outro.

“Aprendi tudo o que sei com a minha costureira Paula Braga. Ainda hoje faço muitos dos meus trabalhos no atelier dela, onde me ajudou sempre nas minhas dúvidas e me ensinou técnicas e formas rápidas de costura", sublinhou Carolina Melo.

Grata pelos ensinamentos, a jovem ponta-delgadense quer, agora, trilhar o seu caminho e espera poder fazê-lo no seu próprio atelier "ainda em 2018", adiantou. Quem sabe se num Raíz Bar, multifacetado, abrindo portas a esse tipo de oferta durante o dia?

A possibilidade existe e já foi sugerida pelos respetivos proprietários, os mesmos que, em dezembro, 'abriram mão' da habitual toada do espaço e permitiram que a 'barwoman' – ou melhor, 'modista' – pudesse levar a efeito o seu primeiro desfile.

Numa noite em que uma empresa de maquilhagem também apresentou a sua marca, Carolina Melo pôde mostrar a sua mais recente coleção, vestindo os modelos presentes. O evento não só fez ampliar a sua visibilidade junto do público, como lhe permitiu conquistar o interesse de uma das bandas açorianas com maior expressão de momento.

"Foi nesse desfile que eu fiquei com o guarda-roupa dos The Code. Foi com as minhas peças que eles subiram a palco na passagem de ano e também serei eu a fazer o guarda-roupa nos próximos concertos importante deles", deu conta.

Enquanto aguarda a oportunidade para ter o seu espaço de costura, a barwoman, vendedora e modista lá vai tirando as medidas do que lhe cai nas responsabilidades; no shaker, na leitura do cliente e nos afazeres conjuntos com Paula Braga, "o rigor é o mesmo", garante, e tudo serve de proveito até que chegue o dia de cumprir a sua ambição.


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