Açoriano Oriental
Joel Neto foi "convidado" na apresentação de “Meridiano 28” na ilha Terceira

O novo livro de Joel Neto foi apresentado no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo pelas escolas da ilha. A noite de sábado contou com música, dança, canto e recital por várias dezenas de alunos, professores e até encarregados de educação.


Autor: AO Online

O repto estava lançado às escolas há alguns meses. Ainda nem o título "Meridiano 28" era sequer definitivo. Joel Neto sabia que o cúmplice perfeito era o amigo, professor e investigador Paulo Matos, o homem que, quando assumia um compromisso, metia a ilha inteira a mexer.

Assim foi. As escolas agarraram o desafio e aproveitaram os seus talentos e especificidades para oferecer ao escritor que garantiu não estar a par de rigorosamente nada. Era um "convidado" na apresentação da sua própria obra.

No serão, que contou com casa praticamente cheia, marcaram presença as comunidades escolares dos dois concelhos da ilha.

A Escola Básica Integrada de Angra do Heroísmo começou com a apresentação da noite. Também subiram a palco as escolas Básica Integrada da Praia da Vitória, Escola Secundária Vitorino Nemésio, Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, Escola Básica Integrada Francisco Ferreira Drummond, Escola Básica e Secundária Tomás de Borba e a Escola Básica Integrada dos Biscoitos.
A apresentação contou ainda com alunos do Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo que colaboraram na realização de uma video-tour pela ilha do Faial.

A noite avançou com música regional e internacional e com destaque para os emotivos recitais ao som dos acordes das violas da terra e dos pequenos-grandes músicos das diversas escolas da ilha Terceira.

As coreografias multiplicaram-se na sala de espetáculos angrense e até houve tempo para uns passos de tango, quickstep e foxtrot.

Joel Neto subiu ao palco no fim do espetáculo de mais de duas horas e disse-se "arrebatadoramente comovido" com o resultado da sua proposta. O escritor diz admitir que enquanto escreve uma obra vai pensando na sua repercussão- os textos dos críticos, as entrevistas e as apresentações da obra- e que nem nos seus melhores sonhos pensou naquele resultado. O escritor açoriano disse, ainda, em jeito de brincadeira, que depois daquele momento, a próxima obra estaria certamente destinada ao fracasso, tal seria a dificuldade de superar aquela apresentação.

O escritor e cronista adiantou que a ideia de desafiar a comunidade escolar a apresentar a obra tinha como objetivo dizer à sociedade civil que "Se os livros têm futuro - e nós dizemos que a literatura não tem futuro- é nas mãos deles (crianças e jovens). E tenham ou não futuro, não me cabe a mim dizê-lo, eu acho que eles mantêm todo o seu potencial formador. Tudo isto que aconteceu aqui aconteceu à volta de um livro. Isto é absolutamente maravilhoso”, disse o autor que já apresentou a obra em vários pontos do país. Para Joel Neto, tendo em conta todo o ruído de que as crianças são vítimas atualmente, o livro poderá ter um potencial formador ainda mais evidente nos dias de hoje.

O autor disse estar comovido com a forma como a sua ilha o acolhe a cada dia: "Eu não acredito que um outro escritor, num outro ponto do país, seja tão evidentemente estimado na sua terra. E a Terceira trata-me sempre, verdadeiramente, como seu filho".

Mas houve outro palco na noite. O palco da acção literária. "Meridiano 28" acontece por Lisboa e várias ilhas dos Açores, mas é na Horta, na ilha do Faial, que fixa as amarras. A obra sobrevoa três aspectos sugeridos por amigos do escritor e que, no fim, se complementaram: a Horta dos cabos submarinos, uma sugestão de António Bulcão, a chegada dos ingleses aos Açores, sugerido por Manuel Meneses Martins, e depois Pedro Miguel Pereira completou a decisão com a sugestão de escrever sobre a Segunda Guerra Mundial nos Açores. Juntavam-se, assim, os três ingredientes para a obra lançada em Maio pelo jornalista, cronista e escritor.

Paulo Matos, organizador desta apresentação inédita, acredita que este é o livro mais maduro de Joel Neto e adiantou ao Açoriano Oriental que, depois de reunir com os professores de todas as escolas e atribuir dois capítulos da obra a cada entidade, foram as próprias instituições educativas que decidiram e produziram as suas apresentações.
O professor e investigador adiantou, ainda, os objetivos do desafio:” Quisemos fazer perceber as capacidades extra escolares dos alunos, fazer um trabalho colaborativo entre escolas (que muitas vezes estão fechadas sobre si) e ainda reforçar a ideia da inclusão, daí a participação de alunos de várias idades e de várias modalidades de ensino (inclusive os do EPAH).

O professor portuense, a residir há mais de uma década nos Açores, admite que os ensaios não correram assim tão bem e admitiu que "o sucesso da noite também me surpreendeu".

Em 2020 o escritor celebra os seus 20 anos de carreira literária e Paulo Matos já sugeriu ao autor a execução de um livro de ensaios sobre a obra do angrense da Terra Chã. Com dois aspectos distintos: textos com um olhar mais científico mas também com um olhar mais do cidadão comum.

A apresentação inédita em Angra do Heroísmo aconteceu depois do cronista ter apresentado o "Meridiano 28" em Lisboa, Coimbra, Faial, Ponta Delgada, Madalena, Fuchal, Porto e Braga.

"Meridiano 28" é o décimo segundo livro de Joel Neto e o sexto de ficção e sucede ao sucesso de vendas "Arquipélago".

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