Açoriano Oriental
Defende Albertina Leal
Festas do Espírito Santo são a matriz do povo açoriano

Valorização e a promoção das festividades do Espírito Santo. Esta é a finalidade da Associação dos Mordomos da Ilha Terceira, cuja direção é liderada por Albertina Leal.


Autor: João Rocha

Foi eleita recentemente presidente da direção da Associação dos Mordomos da Ilha Terceira. Como é que é uma mulher à frente duma associação?

As mulheres açorianas desde há muitos anos que ocupam lugares de direção na sociedade civil. Aliás, eu própria já fiz parte dos órgãos duma Casa do Povo, duma Junta de Freguesia, e fui também mordoma de festas do Espírito Santo na minha freguesia e várias vezes ajudante em muitas outras. A mulher na ilha Terceira participa habitualmente nas festividades do Espírito Santo, seja como esposa dos mordomos e dos ajudantes – e que assim têm tanto trabalho ou mais que os maridos, seja também como mordomas. Este, portanto, é mais um capítulo da minha vida. Aliás a nossa direção é constituída por sete mulheres e não tem nenhum homem; na Mesa da Assembleia Geral e no Conselho Fiscal tem mais três mulheres e três homens, ou seja, dez mulheres num grupo de treze pessoas; mas isso, também é preciso dizê-lo, foi por mero acaso, além de que, contando com maridos e esposas, namorados e namoradas, está elas por elas. E eu não sou a primeira, pois a Associação já teve uma mulher como presidente.

Em que é que consiste a Associação dos Mordomos da Ilha Terceira?

Esta Associação é a única que existe nos Açores e existe já desde 2012. A Associação é aquilo que o seu nome indicia: é uma associação de mordomos, seus ajudantes, familiares e interessados, enfim de todos quantos, e são muitos, que de algum modo intervêm nestas festividades. E visa, portanto, apoiar a valorização e a promoção das festividades do Espírito Santo. Como sabe a Ilha Terceira possui talvez metade de todas as irmandades do Espírito Santos nos Açores e isso, associado à natureza festiva do terceirense, coloca muitos problemas de organização e realização por cada vez mais se verificar dificuldade em encontrar jovens que queiram manter estas tradições. Além disso, em virtude da sua franca organização, sem estruturas formais e baseadas em comissões pontuais, de costumes muito antigos, coloca a estas comissões de mordomos e ajudantes enormes desafios em termos de taxas que pagam para realizar as festividades. Tudo isso têm vindo a criar enormes dificuldades e foram estas que levaram os terceirenses a criar uma Associação que as representa, que as defenda, que lute por elas para que possam manter as tradições. Aliás nos Açores ainda não existe uma lei que apoie diretamente estas instituições culturais antigas, o que é curioso, pois estas festividades são a matriz do povo açoriano e são um depósito vivo daquilo que foi a cultura portuguesa durante muitos anos.

O que é que pretende, em concreto, com o seu mandato?

Desde logo queremos continuar a fazer o que fazemos, tentando melhorar em muitos pormenores. Um dos nossos objetivos é tentar consolidar o funcionamento da Associação, tentando trazer-lhe um maior número de pessoas que queiram fazer esse desafio, para que a Associação seja mais representativa e mais eficaz. Outro dos nossos objetivos, e isso estamos já neste momento a preparar, é continuar a apoiar os mordomos, já não apenas pelo telefone, mas com a sede aberta pelo menos uma tarde por semana; aqui queremos dar um apoio mais direto, mais eficaz aos mordomos, tentando orientá-los nas formas legais de acesso a apoios públicos e privados, no acesso conveniente à utilização das taxas de direitos de autor, e tudo quanto necessitarem e a Associação puder realizar; e apoiando os governos naquilo que é o nosso saber acerca da cultura que representamos, como é o caso das audições parlamentares na feitura das leis. Continuamos interessados em convencer o Governo Regional a criar uma lei a reconhecer o valor cultural destas festividades e, subsequentemente, para apoiar estas festividades, porque elas merecem, mais que não seja pelo menos no plano da igualdade entre todos os atores culturais da sociedade. A democracia e a autonomia devem ser para todos. Temos outros projetos que estão aliás já em desenvolvimento na sua preparação, mas que sobre eles não quero falar agora.


O que mais deseja para o seu mandato?

Primeiro eu quero paz e harmonia. Depois disso quero muito que a Associação tenha êxito, porque se o tiver significa que fomos, e somos, úteis para os mordomos e ajudantes das festividades do Espírito Santo, e assim para a cultura do Espírito Santo na Ilha Terceira e nos Açores afinal. O meu espírito, e o da minha equipa, porque estamos bem sintonizadas, é o de fazer o melhor possível. Sabemos que o caminho é difícil: nem as pessoas se interessam por defender os seus próprios interesses defendendo a sua cultura, nem os governos têm paciência para a cultura do povo que, por regra, não têm força orgânica suficiente para fazer a diferença. Estamos aqui para tentar fazer a diferença, mas vamos fazê-lo na espectativa de que nos espera mais trabalho do que alegrias. Uma das coisas que queremos muito desenvolver é aproximarmo-nos dos impérios e dos mordomos, tentando que exista mais proximidade; julgo que é esta linha de união que a Associação nunca conseguiu por ser ainda jovem, e que vamos trabalha-lha. Repare: nós temos cerca de duzentos associados com ficha de inscrição aberta, mas temos mais de mil e trezentos associados que não conseguimos ainda preencher a ficha de associado. E isso é uma pena, e vamos ter de preencher esse vazio. A Associação dos Mordomos é da ilha e não apenas duma freguesia; todos os presidentes antes de mim foram de freguesias diferentes, Vila Nova, Porto Judeu e Conceição, e agora é das Cinco Ribeiras. Julgo que isso é motivo para nos aproximarmos mais uns dos outros e defendermos a nossa cultura que é afinal a nossa identidade.


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