“Cansaço eleitoral” explica menos desinformação nas europeias

O investigador Gustavo Cardoso admite que o “cansaço eleitoral” ajuda a explicar os casos menos graves de desinformação nas europeias de 09 de junho e que Portugal é uma “democracia mais saudável”.


Autor: Lusa

Sendo impossível monitorizar tudo e todas as redes na campanha, é difícil dizer se houve mais ou menos desinformação do que nas legislativas de março, porque podem ter existido conteúdos que surgiram e desapareceram “tão rapidamente que não ficou registo”, explicou o sociólogo e coordenador do MediaLab, instituto de estudo de ciências da comunicação integrado no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

“As pessoas estão disponíveis para votar, mas desejavam ardentemente que o ciclo, que para elas praticamente não se fechou entre legislativas e europeias, chegasse a um fim. Para que se entrasse numa normalidade, que é ter eleições e depois a seguir a governação respetiva”, disse.

Uma explicação possível - “difícil de quantificar” para o que aconteceu, mas não a única - é o “cansaço eleitoral”, argumentou Gustavo Cardoso, que coordenou o projeto com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) para detetar e prevenir eventuais notícias falsas antes das eleições de 09 de junho.

A desinformação “não é apenas quem a cria”, é também “quem a partilha”, disse. Precisa que as pessoas e “personagens públicas políticas” estejam “atentas e se envolvam, deem atenção” àquilo que “está a circular” nas redes e medias sociais.

“Se não há casos graves de desinformação, isso só pode querer dizer uma coisa: é que está a funcionar bem o sistema que temos”, afirmou Gustavo Cardoso, qe avança com várias explicações possíveis: “Ou porque as pessoas se coíbem de partilhar coisas, seja porque as plataformas atuam rapidamente, seja porque os ‘fact checkers’ (verificadores) estão a fazer bem o seu trabalho.”

Certezas sobre os porquês de haver mais ou menos desinformação não existem, mas há uma conclusão dos especialistas do MediaLab: “Isso quer dizer que temos uma democracia mais saudável.”

Em termos qualitativos, confirmou-se aquilo que Gustavo Cardoso e José Moreno anteciparam há pouco mais de um mês: a imigração é um tema cada vez mais relevante na política e na desinformação.

O investigador do MediaLab José Moreno destacou, à Lusa, que entre os temas desinformativos identificados na Europa – clima, guerra na Ucrânia, covid-19 ou género e LGBTQ+ - apenas a imigração ganhou relevo.

“Houve uma série de ameaças de desinformação nos outros países europeus que não chegaram a Portugal”, afirmou.

De acordo com o MediaLab, foram identificados “episódios desinformativos que não tiveram grande grande impacto” e os mais vistos foram os “amplificados por alguém que tem um ‘megafone’ nas redes sociais”, ou seja, muitos seguidores.

Registaram-se alguns casos, noticiados durante a campanha, identificados pelo MediaLab e noticiados pela Lusa.

Um vídeo originário da Síria com uma estátua da Virgem Maria, datado de 2013 e divulgado na campanha eleitoral das europeias nas redes sociais do Chega, foi considerado como desinformação pelos especialistas.

E André Ventura, líder do Chega, foi o primeiro líder político em Portugal cuja voz foi gerada por inteligência artificial (IA) num vídeo de publicidade enganosa com conteúdo político, num caso claro de desinformação com motivação económica.