Autor: Lusa/AO online
“A Universidade dos Açores tem participado com vários investigadores neste projeto, designado por Grupo B, que estuda a biogeografia em ilhas, e os líderes do projeto são colegas das universidades de Oxford e Copenhaga”, declarou à agência Lusa o investigador Paulo Borges.
O diretor do Grupo de Biodiversidade, Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C) da academia açoriana explicou que, no âmbito do conceito desenvolvido pelos investigadores como “síndroma da ilha”, estes universos insulares “têm características a que só algumas espécies se conseguem adaptar”.
“São espécies que têm grande capacidade de dispersão e que conseguiram chegar às ilhas oceânicas vulcânicas, isoladas nos oceanos Atlântico, Índico ou Pacífico, que possuem uma dinâmica própria de formação”, referiu o investigador.
Paulo Borges exemplificou que quando as ilhas se formam possuem um aspeto de cone vulcânico, como no caso das ilhas do Pico nos Açores, e do Fogo, em Cabo Verde, mas com o passar do tempo vão sendo moldadas pelo vento, pela chuvas e ação do mar na costa.
“Estes espaços insulares vão-se, entretanto, transformando, tendo o aspeto, por exemplo, da ilha da Madeira, com muitos vales, o que permite, numa fase intermédia, apresentar uma grande diversidade orográfica e também de 'habitats' e espécies”, referiu o docente.
O investigador declara que o estudo da dinâmica da estrutura geológica das ilhas “tem depois influência na formação da fauna e flora, bem como no tipo de processos de evolução de espécies”, sendo o “grande objetivo deste projeto a ligação da vertente geológica com a biológica”.
Apesar de formarem apenas cinco por cento da área terrestre do planeta, as ilhas possuem “percentagens de fauna exclusiva muito superiores” aos continentes, constituindo “património único” do planeta.
O docente declarou que muitas das espécies ameaçadas são originárias das ilhas na sequência do seu povoamento pelos portugueses, espanhóis e outros povos europeus, o que conduziu a “grandes desbastes das florestas nativas e processos de extinção de aves”.
Paulo Borges explicou que ao projeto inicial, que se desenvolveu de 2012 a 2015, foi dada continuidade através da criação de um grupo informal criado pelos seus investigadores.
Já se chegaram a “conclusões interessantes” como a que apontou que as ilhas com idade geológica intermédia, como a Madeira, e Santa Maria, nos Açores, são as com maior diversidade única justamente porque “houve mais tempo para gerar processos de diversificação”.
“Ao mesmo tempo não aconteceu o desbaste destas ilhas como se verifica, por exemplo, na ilha do Porto Santo (com mais anos de existência)”, acrescentou.
Neste momento os investigadores encontram-se numa fase de estudo de detalhe sobre o processo de formação de espécies e das relações entre estas em ilhas com diferentes idades geológicas.