Autor: Cristina Pires/Ana Carvalho Melo
Porque aceitou este desafio?
Eu aceitei este convite porque, à
semelhança de muitos ribeira-grandenses, gosto muito do meu concelho e
tenho estado ligado a causas públicas desde jovem. Em segundo lugar
porque pretendo, juntamente com a minha equipa, trazer um verdadeiro
desenvolvimento para a Ribeira Grande. Nós achamos que nos últimos
quatro anos a Ribeira Grande teve essencialmente muita exposição
mediática, mas do ponto de vista prático foram quatro anos que se
perderam, uma vez que não se fizeram infraestruturas que ajudem e venham
a salvaguardar o futuro da Ribeira Grande e dos ribeira-grandenses.
Acusou
o executivo de Alexandre Gaudêncio de esconder o verdadeiro estado das
contas da autarquia. De acordo com dados da câmara, a dívida reduziu
para 10,7 milhões de euros. O que o preocupa?
Essencialmente, o
modelo de gestão deste executivo, que transpôs a parte da despesa
corrente para 54 por cento de todo o orçamento da câmara, quando
anteriormente estes valores rondavam os 43 por cento, o que significa
que não está a haver investimento no concelho, mas antes gasto. Essa
situação preocupa-me porque não havendo investimento, não há retorno.
Fez parte do executivo camarário de Ricardo Silva, a dívida do município nessa altura não era uma preocupação?
Era,
e tanto era, que era gerida com rigor e atenção. Aliás, o anterior
presidente da câmara, Ricardo Silva, era conhecido por ser uma pessoa
bastante assertiva com as contas, mas nunca deixou de fazer investimento
na Ribeira Grande. Aliás, foram os dois mandatos em que houve mais
investimento na Ribeira Grande, em questões muito importantes como
infraestruturas de apoio a praias que hoje estão a ser muito importantes
a nível do turismo e provas internacionais, e também na rede de águas.
Quando diz que nos últimos quatro anos não foi feito investimento, a que investimento se refere?
Temos
um elemento muito importante no nosso concelho que é a frente mar e só
agora é que se está a fazer a travessia da ribeira, com a qual concordo,
mas não com a estrutura que se vai fazer por considerar ser do passado e
que não se adequa a um passeio junto à costa.
No que diz respeito a
apoio de praia temos uma das melhores praias da ilha, a Praia dos
Moinhos, que continua com mau acesso e o estacionamento por resolver,
nem se sabe se este executivo pretende que haja campismo ou não.
Outra situação é as Lombadas, onde havia um projeto de requalificação que também ficou esquecido nos últimos quatro anos.
Tem
demonstrado preocupação com a questão do saneamento básico, acusando o
atual executivo de desinvestimento. O que propõe fazer se for eleito?
O
saneamento tem de ser sempre pensado como espinha dorsal e depois a
periferia. O que pretendemos fazer é trabalhar na espinha dorsal da
cidade e depois dar destino às águas residuais. Sei que há um estudo que
prevê que as águas residuais vão para a ETAR de Santana, o que
concordo.
Por que razão isso não foi feito entre 2009 e 2013, altura em que foi vereador na autarquia e responsável por esta área?
Entre
2009 e 2013 estávamos a acabar de concluir a rede de águas de Rabo de
Peixe. Ou seja, tinha sido construída a ETAR e era preciso fazer a rede
que leva as águas residuais até Rabo de Peixe. Não se podem fazer as
coisas todas de uma vez só e o próximo passo seria a cidade, e inclusive
tínhamos já em andamento um plano que definia que artérias seriam
feitas em primeiro lugar.
Entre os projetos que idealizou para o
concelho para implementar nos próximos quatro anos, está um apoio social
a famílias carenciadas. Para que necessidades e com que valores?
Uma
das nossas prioridades é a habitação social e degradada. Relativamente
ao apoio social este executivo tem um orçamento de cerca de 75 mil
euros, o que é manifestamente insuficiente. Decidimos que iríamos afetar
para estas causas 600 mil euros, ou seja, 200 mil euros por ano para
apoio no âmbito social, como necessidades primárias. No que diz respeito
à habitação, o nosso parque urbano está cada vez mais degradado porque a
crise afetou muitas pessoas que não conseguem fazer obras de reparação
nas suas casas. Por isso, decidimos afetar 400 mil euros por ano para
apoio à habitação degradada. (...)
Ainda no apoio social fala na necessidade de ampliar a rede de parcerias com as IPSS. Que tipo de parcerias e a que níveis?
Desde
já uma maior proximidade. Verificamos que atualmente a câmara tem
chamado a si todo o protagonismo na área das IPSS e de outras
instituições, quando não é a câmara que desenvolve todos os dias um
trabalho de grande mérito.
As parcerias que propomos passam pelo
reforço financeiro a essas instituições, como também a nível técnico
pretendemos reforçar a Divisão de Ação Social da câmara municipal para
que tenha uma interação maior com as IPSS e, desta forma, as ajude no
seu dia-a-dia.
Compromete-se também a intervir na prevenção de
problemas sociais. Que problemas pretende evitar e que medidas quer pôr
em prática?
Nos últimos quatro anos a toxicodependência parece que
desapareceu da Ribeira Grande, mas isso não aconteceu. Desapareceu foi
do trabalho diário que o município tem de fazer a esse nível.
Maus
tratos infantis, maus tratos a idosos, toxicodependências, violência
doméstica são temáticas que pretendemos trabalhar através do reforço de
parcerias com entidades nas várias freguesias e reforçando com mais
meios as diversas entidades. (...)
Que políticas tem para a juventude?
As
políticas para a juventude estão distribuídas nos nossos sete eixos de
ação. Pretendemos que os jovens, nomeadamente nas freguesias mais
pequenas e mais afastadas do centro, tenham a possibilidade de adquirir
habitação nas suas freguesias, através da isenção do IMI no período
legal possível e de tarifas municipais.
A nível de emprego temos
algumas medidas, mas essencialmente o que pretendemos é apoiar as
empresas na criação de emprego. (...)
E para os idosos?
Pretendemos
criar maior proximidade, apoiando as juntas de freguesia e as Casas do
Povo que trabalham com idosos, mas também potenciando uma vigilância
mais próxima do ponto de vista de saúde porque um dos nossos projetos é
fazer com que haja mais médicos de família no nosso concelho.
Como irá cativar mais médicos de família para o concelho?
Há
duas vertentes: a financeira no sentido de protocolar com o Governo
alguns custos que tenha e criar incentivos para a fixação de médicos; e a
nível de habitação, de apoio familiar, que permita escolherem a Ribeira
Grande para trabalhar e viver.
Quantos médicos de família a Ribeira Grande precisa?
Neste momento, são cerca de nove.
Propõe transformar a Ribeira Grande na Capital de Turismo de Natureza. O que é preciso para que isso aconteça?
Temos
uma série de potencialidades que pretendemos agregar para transformar o
concelho na Capital de Turismo de Natureza, de forma a que os turistas
que nos visitam tenham uma panóplia de ofertas que permitam que se
sintam no meio da natureza.
Nos últimos anos, os Açores estão a
usufruir deste crescimento do turismo e a Ribeira Grande está a viver o
reflexo do resto do arquipélago, mas não têm sido criadas mais
infraestruturas. (...) Pretendíamos, por exemplo, fazer que as pessoas
descessem como um safari até às Lombadas criando alguns postos de
trabalho e um centro interpretativo.
O BE denunciou a situação precária dos trabalhadores da Caldeira Velha. Esta situação preocupa-o?
Infelizmente,
muitos trabalhadores da Câmara da Ribeira Grande estão em situação
precária. O executivo anunciou 35 vagas, mas até agora não temos visto o
resultado dos concursos. O nosso trabalho será fazer o possível para
criar os postos de trabalho, de forma a que as pessoas fiquem estáveis e
possam desenvolver um trabalho e formação de continuidade.
Como é que se poderá garantir um turismo sustentável e que não estrague a paisagem?
A
peugada ambiental preocupa-nos e temos de trabalhar na prevenção.
Começando pela Caldeira Velha, que os guias de turismo dizem já não ter o
agrado que tinha, e por isso temos de criar regras e ter pessoas nos
locais.
Eu sou apologista que, como acontece noutros locais, se
comece a contribuir monetariamente para entrar ou passar em alguns
locais como forma de os preservar, mas também de criar postos de
trabalho. (...)
O atual executivo tem apostado no mar da Ribeira
Grande. Se for eleito vai manter esta aposta ou vai voltar-se para o
verde e para a paisagem?
A Ribeira Grande é esse misto, verde mais
mar, quer seja o mar como potencial turístico quer do ponto de vista
piscatório porque é o concelho onde está instalada a maior comunidade
piscatória dos Açores. (...)
Virar a cidade para o mar é fazer a
frente mar e dou um exemplo: no Monte Verde há uma zona onde não é
necessário expropriar casas para se fazer obra e nem o projeto está
feito. (...) Depois temos um Clube Naval no concelho que é o único clube
que até agora a câmara nunca apoiou, com jovens atletas que trazem
medalhas de ouro de concursos e que praticamente nunca são reconhecidos.
O
que pretendemos, no âmbito da formação de jovens, é formar pessoas para
o apoio às atividades do mar, nomeadamente a pesca turística.
O concelho está bem servido a nível de serviços de apoio ao turismo?
O
concelho tem crescido e os empresários têm sabido aproveitar as
oportunidades e têm tido a capacidade de se adaptarem rapidamente a esta
nova realidade. Por isso, eu estou bastante convicto que a Ribeira
Grande com os empresários que tem e se querem instalar, vai estar
preparada para o fenómeno do turismo.
A área cultural é outra aposta da sua candidatura. Quais são as suas propostas?
O
atual executivo já gastou perto de um milhão de euros em apoio a festas
e festividades, dos quais cerca de 750 mil foram adjudicados a
empresários fora da Ribeira Grande. Estas festividades têm-se
desenvolvido apenas no largo do município e não se pode dizer que ajudam
a economia local quando se restringem a um espaço.
A nossa ideia é
criar um cartaz cultural que vai desde a Lomba de São Pedro às Calhetas
de forma a darmos igualdade de oportunidades a toda a população e a
todos os agentes económicos que temos no concelho.
Está confiante na sua eleição?
A cada dia que passa a confiança, minha e da equipa que me acompanha, é cada vez maior.