Açoriano Oriental
Grupo de teatro da ilha das Flores conquista encenador de Portugal continental

O grupo de teatro Jangada, da ilha das Flores, leva a cena todos os anos entre quatro e cinco espectáculos e há 18 anos que o encenador se desloca propositadamente de Portugal continental à ilha.

Grupo de teatro da ilha das Flores conquista encenador de Portugal continental

Autor: Lusa/AO online

“É muito interessante a relação que a ilha tem com o teatro. Estamos a falar de um ponto muito ocidental, que é isolado e insular, mas há uma relação da comunidade com o teatro muito grande”, adiantou, em declarações à Lusa, o encenador do grupo, Joaquim Salvador.

Fundado na década de 1970, na ilha das Flores, onde o Governo Regional dos Açores inicia hoje uma visita estatutária, o grupo de teatro Jangada esteve alguns anos inativo, mas foi retomado em 1999, mantendo desde então uma atividade regular, com peças de vários estilos, sempre com o mesmo encenador.

Foi através de uma educadora de infância colocada na ilha das Flores que Joaquim Salvador conheceu o grupo composto por atores amadores, numa época em que as produções ainda tinham muito a evoluir.

“Lembro-me que andámos junto dos comerciantes a pedir apoios para pagar a passagem de avião ao encenador. E começou assim. Estávamos a ensaiar uma peça muito rudimentar, uma comédia. Quando ele viu o estado caótico em que a peça estava, remodelou-a a toda”, recordou António Lopes, um dos membros mais antigos do grupo.

Entre outros projetos, Joaquim Salvador mantém em Samora Correia o grupo de teatro Revisteiros, que fundou aos 14 anos, mas desloca-se à ilha das Flores entre duas semanas a um mês para os primeiros ensaios de cada nova peça e regressa para a estreia.

“Eu tenho uma paixão enorme pelos Açores. Acho que noutra reencarnação vivi nos Açores. Eu costumo dizer que estou na minha casa. Eu chego às Flores e estou em casa. É-me fácil trabalhar ali. Tenho colo. Fui muito bem acolhido”, frisou.

Todos os anos, o grupo estreia quatro a cinco peças, havendo sempre uma peça infantil, uma revista à portuguesa, uma peça em sala e um espetáculo de rua.

A Jangada foi conquistando um público “fiel e muito exigente” e chega a estar seis a sete dias com o mesmo espetáculo em cena com lotação esgotada.

Segundo António Lopes, a aproximação do público resulta também da aposta em peças infantis, levadas às escolas, que contam com textos originais, escritos por um professor que é membro do grupo, e em que os alunos participam, elaborando a cenografia.

“Temos crianças que assistiram às primeiras peças infantis e hoje, passados estes anos todos, fazem parte do grupo. O bicho mordeu. Nós entendemos que se começa nas escolas e todas as peças infantis têm uma componente pedagógica”, apontou.

O núcleo duro do grupo de teatro conta apenas com cerca de 15 atores, mas há um elenco flutuante composto sobretudo por professores e outros funcionários públicos colocados por um, dois ou três anos na ilha.

Para António Lopes, o teatro é uma forma de promover a cultura, mas também de ocupar o tempo, numa ilha em que a oferta cultural não é tão alargada.

“O grupo tem tudo para não funcionar: uma ilha pequena, onde tudo é difícil, onde tudo é mais longe, onde tudo fica mais caro. É a loucura. Tiramos partido disso. É uma ilha onde não há grandes atividades culturais, como há noutras ilhas”, adiantou.

A revista à portuguesa, pouco comum nos Açores, é realizada há 16 anos nas Flores e representa o maior desafio para a Jangada.

“É muito complicado fazer uma revista nas Flores, porque vai tudo do continente para lá. Falamos do material para os cenários, de guarda-roupa para 30 pessoas, para 25 quadros… mas há depois da parte do público uma recetividade muito grande”, frisou Joaquim Salvador.

Para o encenador, o truque para cativar um público que assiste sempre a peças com os mesmos atores é “ir surpreendendo a cada momento”.

No dia 17 de novembro, a Jangada estreia a peça “Nunca nada de ninguém”, de Luísa Costa Gomes, um espetáculo multimédia, em que os atores contracenam com eles próprios em vídeo.


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